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Música de Abertura: "Maranhão, Meu Tesouro, Meu Torrão", de Mano Borges

sábado, 25 de agosto de 2007

Lembranças do Vietnã, 1971

Quadros saídos da imaginação de Dante...
Situações que causariam pavor a Maquiavel...
Aqui, à beira do caminho torto e lamacento, um pé. Sem perna, sem corpo, sem nada. Apenas... um pé.
Adiante, nas covas das trincheiras, gritos, morte, carne, lamentações, zumbir de balas -- é impressionante uma bala zumbindo -- e... outro pé.
Por mais paradoxal que seja, o tétrico adquire beleza. Cores: o vermelho do sangue, o rubro do fogo, o amarelo da pele, o branco do nada. Tonalidades: o verde das vestes, o verde das matas, o verde da bílis.
Agora, ação. Quadro vivo, surrealista, pulsante, sonoro. Depois, imobilidade. Cena parada, natureza-morta, inerte, muda.
São milhares, miúdos, minguados. Amarelos, guerrilheiros natos. Os Vietcongs. Alguns nem conhecem a paz: nasceram e vingaram na luta.
Não temem a Deus. Não temem a morte. Rastejantes, sorrateiros, prestes a morrer. E morrem, e morrem e morrem.
Seu sangue é tributo. A morte é glória. Rastejantes, sorrateiros, prestes a matar. E matam, e matam e matam.
O corpo mutilado. Perfurações, talhos. Já não há mais dor ou desespero. Há os que choram pelo tempo, pela terra, pela tribo. Lágrimas que regam o chão. Lágrimas e sangue. Geralmente quentes, tépidos. No momento frios, gélidos.
O corpo é levado. A bandeira rota por cima. Bandeira ultrajada, espezinhada, cuspida. Bandeira da morte. Pedaço de pano colorido. Ideal de uns, mortalha de outros.
Levanta-se a bandeira: o corpo em chagas, cortes, mutilações. Anatomia incompleta: sem os pés.

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