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Música de Abertura: "Maranhão, Meu Tesouro, Meu Torrão", de Mano Borges

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Carta de Amor

Limbo, trinta e um desejos de mil e novecentos e noventa sonhos.

Mulher,

A tua ausência e a distância que me separa de ti não são suficientes para impedir que a tua imagem se faça presente e visível neste meu quarto escuro.

A ausência e a distância não são capazes de obstaculizar a força do meu amor no projetar a matéria do teu corpo. A escuridão é impotente contra o teu fulgor. Não fossem os raios iridescentes de teus cabelos ou a alvura da tua pele, seria o brilho incontido dos teus olhos a iluminar a própria vida.

Aproximamo-nos. Tão perto que chego a sentir teu hálito morno que rescende a murta-de-cheiro. Tão perto que me vejo refletido no límpido cristalino de teus olhos.

Teus olhos! De oceânico azul, convidam à imersão. Irresistíveis! Neles mergulho e sinto, imediatamente, a purificação própria dos deuses. Embebedo-me de tuas lágrimas de amor e me deixo invadir pelo torpor da leveza e da serenidade. Aí, me deifico.

Adejamos juntos em busca da saída estreita do Limbo, para pecar originalmente. Invadimos o Paraíso, para de lá sermos expulsos por explosões de amor incontido. Iniciamos a gênese dos deuses-amantes.

Reluto em abrir os olhos.

De volta à terra dos homens. O mesmo quarto escuro.

No entanto, em minha quotidiana escuridão interna resplandece a felicidade do teu encontro e nela perdura o odor da murta-de-cheiro e o eco de minhas últimas palavras: eu te amo!

Teu,
Homem.

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