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Música de Abertura: "Maranhão, Meu Tesouro, Meu Torrão", de Mano Borges

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.


Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte,
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

Ferreira Gullar
“Na Vertigem do Dia” (1980)

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